domingo, 30 de junho de 2013

AS BIBLIOTECAS por Valter Hugo Mãe




A
s bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros. Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria de imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.
                Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.
                O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.
                Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das bibliotecas.
                Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, e choram, imaginam que mais tarde voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como carrosséis para as ouvir rir.
                Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou de coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.
                As bibliotecas só aparentemente são sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.
                Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra. Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame o direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.
                As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.
                Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maças ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas.
                Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.

                Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa de ser também um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor.

(Valter Hugo Mãe, "As Bibliotecas"in Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº1112, de 15 a 29 de maio de 2013,  p.34)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Saramago - Prémio Nobel da Literatura

A 8 de outubro de 1998, a Academia Sueca, a quem compete atribuir anualmente os Prémios Nobel, anunciava a sua decisão de atribuir o Prémio Nobel da Literatura a José Saramago. Foi a primeira vez que um escritor português recebeu o mais importante prémio literário do mundo. A 7 de dezembro, em Estocolmo, recebeu o galardão e proferiu um importante discurso a que chamou "De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz"

"De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz"

       "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.
     Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. 
     Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda deferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.
      Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia.
     Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.
     Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza".
   Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.
    Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver."


11ºD - Sorri! Não estás a ser filmado

Partilhamos o maravilho vídeo do 11ºD - "Sorri! Não estás a ser filmado...


terça-feira, 18 de junho de 2013

Sem José Saramago há 3 anos

            AUTOBIOGRAFIA         Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago... Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo
legal.

Talvez por ter participado na Grande Guerra, em França, como soldado de artilharia, e conhecido outros ambientes, diferentes do viver da aldeia, meu pai decidiu, em 1924, deixar o trabalho do campo e trasladar-se com a família para Lisboa, onde começou a exercer a profissão de polícia de segurança pública, para a qual não se exigiam mais "habilitações literárias" (expressão comum então...) que ler, escrever e contar. Poucos meses depois de nos termos instalado na capital, morreria meu irmão Francisco, que era dois anos mais velho do que eu. Embora as condições em que vivíamos tivessem melhorado um pouco com a mudança, nunca viríamos a conhecer verdadeiro desafogo económico. Já eu tinha 13 ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras famílias. Durante todo este tempo, e até à maioridade, foram muitos, e frequentemente prolongados, os períodos em que vivi na aldeia com os meus avós maternos, Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha.
Fui bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano. Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos...) tesoureiro da associação académica... Entretanto, meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de Literatura. Como não tinha livros em casa (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de Português, pelo seu carácter "antológico", que me abriram as portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis. Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.
Quando casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores portugueses. Faleceria em 1998. Em 1947, ano do nascimento da minha única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que intitulei A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escrevi ainda outro romance, Clarabóia, que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu... A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena. Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria Os Poemas Possíveis , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.
Por motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador. No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade permitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então. Para melhorar o orçamento familiar, mas também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até 1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduzi. Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968, foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara Os Poemas Possíveis, uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, Provavelmente Alegria, e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do OutroA Bagagem do Viajante , duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior. Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.
Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve, esses textos representam uma "leitura" bastante precisa dos últimos tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas pelo golpe político-militar de 25 de daquele mês, que travou o processo revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993, um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director.
Sem emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar, tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor. No princípio de 1976 instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão, em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca. Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do Chão, nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa , 1989. Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.
Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, transferimos, minha mulher e eu, em Fevereiro de 1993, a nossa residência para a ilha de Lanzarote, no arquipélago de Canárias. No princípio desse ano publiquei a peça In Nomine Dei, ainda escrita em Lisboa, de que seria extraído o libreto da ópera Divara, com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster (Alemanha), em 1993. Não foi esta a minha primeira colaboração com Corghi: também é dele a música da ópera Blimunda, sobre o romance Memorial do Convento, estreada em Milão (Itália), em 1990. Em 1993 iniciei a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote, de que estão publicados cinco volumes. Em 1995 publiquei o romance Ensaio sobre a Cegueira e em 1997 Todos os NomesO Conto da Ilha Desconhecida . Em 1995 foi-me atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.
Em consequência da atribuição do Prémio Nobel a minha actividade pública viu-se incrementada. Viajei pelos cinco continentes, oferecendo conferências, recebendo graus académicos, participando em reuniões e congressos, tanto de carácter literário como social e político, mas, sobretudo, participei em acções reivindicativas da dignificação dos seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre destrutivas.
Creio ter trabalhado bastante durante estes últimos anos. Desde 1998, publiquei Folhas Políticas (1976-1998) (1999), A Caverna (2000), A Maior Flor do Mundo (2001), O Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre a Lucidez (2004), Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005), As Intermitências da Morte (2005) e As Pequenas Memórias (2006). Agora, neste Outono de 2008, aparecerá um novo livro: A Viagem do Elefante, um conto, uma narrativa, uma fábula.
No ano de 2007 decidiu criar-se em Lisboa uma Fundação com o meu nome, a qual assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos, como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente. Em Julho de 2008 foi assinado um protocolo de cedência da Casa dos Bicos, em Lisboa, para sede da Fundação José Saramago, onde esta continuará a intensificar e consolidar os objectivos a que se propôs na sua Declaração de Princípios, abrindo portas a projectos vivos de agitação cultural e propostas transformadoras da sociedade.
Nota - Depois de A Viagem do Elefante, José Saramago escreveu Caim e O Caderno I e O Caderno II, livros que não chegou a acrescentar à sua Autobiografia.
 José Saramago morreu em 201o.
(Fonte: site da Fundação José Saramago)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

CADAVRE-EXQUIS

A Professora Cristina Patrício e os alunos do 11ºD dinamizaram, na Biblioteca Municipal  da Covilhã,  0 Workshop de Cadavre-exquis dirigido aos alunos do 2ºciclo do Agrupamento de Escolas Pêro da Covilhã e que ocorreu entre os dias 20 e 29 de maio. No fim das duas semanas de decurso deste projeto, 363 crianças e jovens passaram pela BMC para verem a exposição “cadavre-exquis” e, em simultâneo, participarem nos workshop numa viagem ao surrealismo pelo mundo das letras e das artes visuais. Desse trabalho resultaram desenhos e textos maravilhosos que depois da exposição na Biblioteca Municipal se encontraram também expostos no átrio da nossa escola. Os textos chegam agora às paredes da nossa biblioteca. Assim, convidamos todos aqueles que ainda não tiveram oportunidade de ver/ler estes cadavre-exquis a fazê-lo. Vale mesmo a pena!

Deixamos aqui o texto de apresentação do workshop e o texto de introdução da exposição e workshop para as turmas visitantes, ambos da autoria da Professora Cristina Patrício a quem agradecemos a partilha. 


"A ESCM levou arte à Biblioteca Municipal. Artes plásticas e literatura cruzam-se na arte sob a forma de desenhos, pinturas e textos criativos à luz do surrealismo.
Os alunos de artes da ESCM “exploraram”, “mostraram” e “ensinaram” cultura e arte aos mais novos. Crianças e jovens dos 6 aos 12 anos aprenderam a jogar, desenhando e escrevendo o imaginário de cada um, numa viagem pelo mundo do sonho e da fantasia proposta pelo surrealismo, pela mão destes alunos. Ninguém melhor que as crianças e jovens explora os sonhos e o imaginário com um lápis na mão sobre uma folha de papel.
A cultura e a arte são expressões da humanidade e existem em cada um de nós. Na arte, ninguém sonha tão alto e se exprime de uma forma tão pura como as crianças.

 “Aos seis anos eu pintava como Rafael, passei uma vida inteira para (saber ou aprender) desenhar como uma criança.”

Pablo Picasso"
Professora Cristina Patrício


Sabem o que é arte?
Arte é tudo o que representa uma obra bela, feita pelo homem, que todos nós podemos fazer mostrando o que estamos a sentir.
A arte pode ser uma música muito bonita que alguém compõe ou toca, pode ser um poema que alguém escreve, pode ser um desenho, uma pintura…que alguém faz com a sua imaginação, emoção e talento e que todos nós podemos ver e admirar.
A arte tem muitos e diferentes formas de se expressar mas, expressa sempre os sentimentos de alguém e desperta em quem a aprecia os seus próprios sentimentos.
Ficamos felizes quando ouvimos uma música de que gostamos, quando lemos um poema que nos agrada ou quando vemos um desenho ou uma pintura que achamos bela.
Tudo isso nos pode fazer felizes e sonhar.
A arte tem muitas formas de expressão e tem muitos “apelidos”:
Musica, poesia, conto, dança, escultura, cinema, teatro, desenho, pintura, etc.
A arte tem muitos “apelidos”, “nomes próprios” e muitas “modas”.
A “moda” da arte de hoje chama-se surrealismo e pode aplicar-se à escrita, ao desenho e à pintura, como vamos ver. Esta arte nasceu no início do séc. passado, entre as duas Grandes Guerras. Tem quase 100 anos.
O “nome próprio” desta forma produzir arte é “cadavre-exquis”. Este nome nasceu e foi batizado em França, num grupo de amigos artistas das palavras que se juntavam para conversar e, para se divertirem inventaram este  “jogo” divertido e criativo.
O jogo joga-se assim: Um amigo começa a escrever uma frase e deixa apenas umas palavras à vista, escondendo as primeiras, dá ao amigo seguinte para continuar…e por aí continuamos.
Pintores amigos destes escultores juntavam-se a eles para a conversa e, logo logo, gostando deste jogo divertido, criaram o jogo para o desenho, que ficou com o mesmo nome.
Dobravam a folha de papel em quatro partes, o primeiro desenhava a cabeça e mesmo na dobra da folha, para baixo, deixava umas pistas pequeninas para o seguinte que, sem ver e pelas pistas, continuava o tronco e os braços. Da mesma forma esse passava ao terceiro que desenhava as pernas e por último o quarto desenhava os pés.
Tudo ficava escondido até que no final…se desdobrava a folha de desenho e todos tinham a surpresa de ver a sua nova “criatura” que era sempre uma obra de arte!
Como a “moda” destes artistas era o surrealismo, para além da forma de se jogar, um jogo de escondidas, as regras do jogo, e muito importantes, eram as seguintes:
O que se escrevia ou se desenhava não tinha, nem devia, fazer sentido no “mundo real”.
Cada um e todos sonhavam e imaginavam e as palavras e as partes dos desenhos que faziam eram do seu mundo imaginário e de fantasia.
Assim os textos pareciam não fazer sentido e os desenhos representavam sempre figuras estranhas, de outro mundo.
Todos os nossos desenhos e textos podem ser arte, basta serem originais e nascerem do mundo dos sonhos e da fantasia. Um mundo que as crianças e os jovens adoram!
Nesse mundo, todos sabemos desenhar e escrever, todos somos grandes artistas a fazer grandes obras, sempre diferentes.
Grandes obras como as que hoje aqui estamos a apreciar e melhor, como as que vocês hoje aqui vão fazer com a ajuda dos jovens mais crescidos que já estudam arte.
Façam de conta que estão a sonhar, deixem a vossa imaginação voar, depois levarão a vossa obra de arte para casa.
Ensinem em casa e aos amigos.
Vão ver como todos podemos ser importantes artistas apenas a imaginar e a jogar.
Façam este jogo na escola e proponham a vossa própria exposição. Será um sucesso garantido.
(Professora Cristina Patrício)


 A BE dá os PARABÉNS à professora Cristina Patrício e aos alunos do 11ºD que participaram neste projeto pelo excelente trabalho que desenvolveram.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

REVISÃO DA MATÉRIA - FERNANDO PESSOA

Deixamos aqui mais uma sugestão que pode ajudar na sistematização de conhecimentos relativos à disciplina de Português (12º ano) cujo exame é já na próxima segunda-feira (17 de junho). Hoje, sugerimos a visualização do documentário sobre Fernando Pessoa, apresentado por Clara Ferreira Alves, no programa Grandes Portugueses (RTP 1). Fica também o documentário sobre O Livro do Desassossego de Bernardo Soares do programa Grandes Livros (RTP2).





FERNANDO PESSOA


"Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real." (Fernando Pessoa)


(Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935, in Correspondência 1923-1935, ed. Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999

A resposta à pergunta de ontem era Fernando Pessoa. Este nasceu em Lisboa no dia 13 de junho de 1888. Comemoram-se os 125 anos do seu nascimento. Deixamos aqui as palavras de Inês Pedrosa, Diretora da Casa Fernando Pessoa, que lembram a importância deste grande poeta que Portugal deu ao mundo... Ficam também as palavras do poeta sobre si próprio através da nota biográfica datada de 30 de março de 1935.

"«A minha pátria é a língua portuguesa», escreveu, profeticamente, Fernando Pessoa. O seu génio expressou-se também, inúmeras vezes, em língua inglesa – mas aquele que viria a tornar-se o mais internacional dos escritores portugueses sabia que cada língua tem a sua cor, a sua luz e a sua música própria, e que a arte da escrita consiste em levar para lá dos limites convencionais os dons expressivos de cada língua. A sua primeira originalidade foi essa: a de se entregar ilimitadamente à sua língua, sem complexos de mando nem de escravo. Por isso escreveu sobre o conhecido e o desconhecido, o alto e o baixo, a estética e o comércio, a política e a astrologia. Criou uma constelação de heterónimos e semi-heterónimos – incluindo uma extraordinária Maria José – que lhe permitiram explorar, visceralmente, as mais diversas possibilidades do ser. E foi, evidentemente, um poeta inultrapassável – o tempo paralisa-se diante dos seus textos, sempre inscritos numa verdade futura. Semeador de papéis com um único livro publicado em vida («Mensagem»), sonhador de impossíveis que jamais se deixou esmagar pela monótona incompreensão do seu tempo, Fernando Pessoa deixou uma obra múltipla e incisiva, que continua a surpreender-nos, a seduzir-nos e, acima de tudo, a desafiar-nos a quebrar as fronteiras do corpo e da alma, da vida e do sonho, da reflexão e dos sentimentos. Uma obra absolutamente universal."
Inês Pedrosa
(in http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/)


Fernando Pessoa por Fernando Pessoa

     [NOTA BIOGRÁFICA] DE 30 DE MARÇO DE 1935

Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.


Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.


Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Director-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.

Estado: Solteiro.

Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.

Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).

Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.

Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.

Lisboa, 30 de Março de 1935
Fernando Pessoa

  In Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, ed. Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2003, pp. 203 - 206.
Curiosidade

PERSONAGENS FICTÍCIAS E HETERÓNIMOS CRIADOS POR FERNANDO PESSOA

Teresa Rita Lopes (Pessoa por Conhecer, Teresa Rita Lopes, Lisboa: Estampa, 1990, vol.I) refere ainda os seguintes “Personagens e enredo” de Fernando Pessoa.
“1.1. DRAMATIS PERSONAE
(Por ordem — aproximada — de entrada em cena)
1. Dr. Pancracio – jornalista de A PALAVRA e de O PALRADOR, contista, poeta e charadista.
2. Luís António Congo – colaborador de O PALRADOR, cronista e apresentador de Eduardo Lança.
3. Eduardo Lança – colaborador de o PALRADOR, poeta luso-brasileiro.
4. A. Francisco de Paula Angard - colaborador de o PALRADOR, autor de «textos scientificos».
5. Pedro da Silva Salles (Pad Zé) - colaborador de o PALRADOR, autor e director da secção de anedotas.
6. José Rodrigues do Valle (Scicio), - colaborador de o PALRADOR, charadista e dito «director literário».
7. Pip - colaborador de o PALRADOR, poeta humorístico, autor de anedotas e charadas, predecessor neste domínio do Dr. Pancracio.
8. Dr. Caloiro - colaborador de o PALRADOR, jornalista-repórter de «A pesca das pérolas».
9. Morris & Theodor - colaborador de o PALRADOR, charadista.
10. Diabo Azul - colaborador de o PALRADOR, charadista.
11. Parry - colaborador de o PALRADOR, charadista.
12. Gallião Pequeno - colaborador de o PALRADOR, charadista.
13. Accursio Urbano - colaborador de o PALRADOR, charadista
14. Cecília - colaborador de o PALRADOR, charadista.
15. José Rasteiro - colaborador de o PALRADOR, autor de provérbios e adivinhas.
16. Tagus - colaborador no NATAL MERCURY (Durban).
17. Adolph Moscow - colaborador de o PALRADOR, romancista, autor de «Os Rapazes de Barrowby».
18. Marvell Kisch autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Riqueza de um Doido»).
19. Gabriel Keene – autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («Em Dias de Perigo»).
20. Sableton-Kay – autor de um romance anunciado em O PALRADOR, («A Lucta Aerea»).
21. Dr. Gaudêncio Nabos – director de O PALRADOR (3.ª série), jornalista e humorista anglo-português).
22. Nympha Negra – colaborador de O PALRADOR, charadista.
23. Professor Trochee – autor de um ensaio humorístico de conselhos aos jovens poetas.
24. David Merrick – poeta, contista e dramaturgo.
25. Lucas Merrick – contista (irmão de David?).
26. Willyam Links Esk – personagem de ficção que assina uma carta num inglês defeituoso (13/4/1905).
27. Charles Robert Anon – poeta, filósofo e contista.
28. Horace James Faber – ensaísta e contista.
29. Navas – tradutor de Horace J. Faber.
30. Alexander Search – poeta e contista.
31. Charles James Search – tradutor e ensaísta (irmão de Alexander).
32. Herr Prosit – tradutor de O Estudante de Salamanca de Espronceda.
33. Jean Seul de Méluret – poeta e ensaísta em francês.
34. Pantaleão – poeta e prosador.
35. Torquato Mendes Fonseca da Cunha Rey – autor (falecido) de um escrito sem título que Pantaleão decide publicar.
36. Gomes Pipa – anunciado como colaborador de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis como autor de «Contos políticos».
37. Íbis – personagem da infância que acompanha Pessoa até ao fim da vida nas relações com os seus íntimos que sobretudo se exprimiu de viva voz, mas também assinou poemas.
38. Joaquim Moura Costa – poeta satírico, militante republicano, colaborador de O PHOSPHORO.
39. Faustino Antunes (A. Moreira) – psicólogo, autor de um «Ensaio sobre a Intuição»).
40. António Gomes - «licenciado em philosophia pela Universidade dos Inúteis», autor da «Historia Cómica do Çapateiro Affonso».
41. Vicente Guedes – tradutor, poeta, contista da Íbis, autor de um diário.
42. Gervásio Guedes – (irmão de Vicente?) autor de um texto anunciado, «A Coroação de Jorge Quinto», em tempos de O PHOSPHORO e da Empresa Íbis.
43. Carlos Otto – poeta e autor do «Tratado de Lucta Livre».
44. Miguel Otto – irmão provável de Carlos a quem teria sido passada a incumbência da tradução do «Tratado de Lucta Livre».
45. Frederick Wyatt – poeta e prosador em inglês.
46. Rev. Walter Wyatt – irmão clérigo de Frederick?
47. Alfred Wyatt – mais um irmão Wyatt, residente em Paris.
48. Bernardo Soares – poeta e prosador.
49. António Mora – filósofo e sociólogo, teórico do Neopaganismo.
50. Sher Henay – compilador e prefaciador de uma antologia sensacionalista em inglês.
51. Ricardo Reis – HETERÓNIMO.
52. Alberto Caeiro – HETERÓNIMO.
53. Álvaro de Campos - HETERÓNIMO.
54. Barão de Teive – prosador, autor de «Educação do Stoico» e «Daphnis e Chloe».
55. Maria José – escreve e assina «A Carta da Corcunda para o Serralheiro».
56. Abílio Quaresma – personagem de Pêro Botelho e autor de contos policiais.
57. Pero Botelho – contista e autor de cartas.
58. Efbeedee Pasha – autor de «Stories» humorísticas.
59. Thomas Crosse – inglês de pendor épico-ocultista, divulgador da cultura portuguesa.
60. I.I. Crosse – coadjuvante do irmão Thomas na divulgação de Campos e Caeiro.
61. A.A. Crosse – charadista e cruzadista.
62. António de Seabra – crítico literário do sensacionismo.
63. Frederico Reis – ensaísta, irmão (ou primo?) de Ricardo Reis sobre quem escreve.
64. Diniz da Silva – autor do poema «Loucura» e colaborador de EUROPA.
65. Coelho Pacheco – poeta in ORPHEU III e na revista projectada EUROPA.
66. Raphael Baldaya – astrólogo e autor de «Tratado da Negação» e «Princípios de Metaphysica Esotérica».
67. Claude Pasteur – francês, tradutor de CADERNOS DE RECONSTRUÇÃO PAGÃ dirigidos por A. Mora.
68. João Craveiro – jornalista sidonista.
69. Henry More – autor em prosa de comunicações mediúnicas - «romances do inconsciente» como Pessoa lhes chama.
70. Wardour – poeta revelado em comunicações mediúnicas.
71. J. M. Hyslop – poeta revelado em comunicação mediúnica.
72. Vadooisf [?] – poeta revelado em comunicação mediúnica.”