quarta-feira, 15 de maio de 2013

AUGUSTO ABELAIRA

A BE adquiriu recentemente várias obras de Augusto Abelaira, ficcionista português que, nos anos sessenta, respondeu aos anseios de uma geração que propunha a renovação social e política num contexto cultural de consciencialização e responsabilidade, no qual a arte e a literatura ocupavam lugar determinante.
Importa (re)descobri-lo...
Breve Biobibliografia
"Escritor, professor e jornalista,  nasceu em 1926 em Ançã, Cantanhede. Foi director de programas na RTP e director da Seara Nova. Estreou-se literariamente com A Cidade das Flores (1959), onde traça o perfil de uma certa juventude portuguesa do após-guerra. Em As Boas Intenções (1963), romance que obteve o Prémio Ricardo Malheiros, prossegue com o retrato da pequena burguesia citadina. Sem Tecto entre Ruínas vale-lhe o Prémio Cidade de Lisboa em 1979. Mais recentemente, publicou Deste Modo ou Daquele (1990) e Outrora Agora (1996). Esta última obra valeu-lhe o Grande Prémio de Romance e Novela, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores, em 1997. Faleceu em Lisboa, no ano de 2003." (in WOOK)
Eis as obras disponíveis:


Augusto Abelaira, Bolor, 6ªed, Lisboa, Editorial Presença, 2005.

"Bolor, datado de 1986, tem sido considerado um dos livros que marcaram a passagem à pós-modernidade na literatura portuguesa. O que é indisutível, é que este título tanto vem confirmar a maturação literária do seu autor como o seu emepnhamento em agir sobre um modelo de sociedade que tenta ainda aprisionar os comportamentos dentro de valores que já pouco ou nada têm a ver com aquilo que mudou no quotidiano e na consciência das pessoas. Neste romance, sem perder a transparência da sua escrita, Abelaira inventa uma nova configuração ficcional, subtilmente mais capaz de deixar expandir-se a sua ânsia de aprofundar o questionamneto do real. Sob forma diarística, Humberto, Maria dos Remédios e Aleixo são misteriosamente e à vez autores deste romance, que tem tanto de realista como de lúdico, tanto de ironicamente céptico como de passsional e provocante, expondo  adesagregação de um casamento pela acção subversiva do terceiro pólo deste (afinal) triângulo amoroso."
 Augusto Abelaira, O Bosque Harmonioso, 2ªed., Lisboa, O Jornal, 1987.
    A 1ª edição deste livro data de 1982, e nele Augusto Abelaira retoma e complexifica no século XX  os artifícios da literatura utópica quinhentista. O narrador é uma personagem que simula encontrar e traduzir um manuscrito quinhentista, O Bosque Harmonioso, de Cristovão Borralho. Ao logo deste romance, à semelhança de Bolor também em formato diarístico, vamos acompanhando o trabalho do narrador Arnaldo Cunha nessa tradução e na tentativa de identificar e compreender o seu autor.
"5 Sem o manuscrito do Bosque Harmonioso - enstou num café-, mas trazendo comigo este caderno, onde vou rabiscando as minhas conclusões sobre Cristovão Borralho, releio as páginas anteriores e hesito novamente. Se a versão com sabor quinhentista se torna ridícula, o português correntio não roubará ao texto o clima próprio, aproximando-o execessivamente de nós? Não o despersonalizará?
     Decido então, por agora, mudar de rumo e perguntar: que espécie de homem foi Cristovão Borralho, o escritor quinhentista de quem já dei a pequena amostra algo brejeira e portanto pouco significativa da originalidade revolucionária das suas intuições?" (p.12)

 Augusto Abelaira, Deste Modo ou Daquele, 1ªed., Lisboa, O Jornal, 1990.
 
 

 


 "Viver não é apenas viver, é sobretudo contar repetidamente o que vivemos, forma de multiplicar a vida. Dizer amo-te é uma coisa. Contar que amo alguém é outra." (p.207)










Augusto Abelaira, Enseada Amena,4ªed., Lisboa, Editorial Presença, 1997.



"Enseada Amena foi publicado pela 1ª vez em 1966, e fazia parte dessa confluência de águas que vinham a juntar-se para formar um renovador e caudaloso curso nas correntes da literatura portuguesa. Era uma outra idade literária que se abria, sendo radicalmente outra, os códigos literários e a própria "ordem moral" subjacente a muito do que a antecedera. Era uma nova visão do mundo que tomava forma e Abelaira foi dos escritores que mais longe levou essa poderosa renovação. Enseada Amena é um livro de época e cujo alcance vai muito além do quadro social que lhe serve de referência e que o transcende num sentido do que é, antes de mais, essencialmente humano. Lê-lo resulta fascinante não só pela apuradíssima técnica narrativa, como pelos temas que nos são afinal tão próximos, mas ainda e sobretudo pela delicadeza e inteligência que são uma espécie de marca pessoal do seu autor." (in WOOK)


Augusto Abelaira, Nem Só Mas Também, Lisboa, Editorial Presença, 2004.


"Esta edição póstuma de Augusto Abelaira é marcada por uma prodigiosa imaginação, onde mistura personagens de «carne e osso» com reflexões de grande exigência, não só intelectual mas que atingem uma dimensão amplamente existencial e que deixa transparecer o sentido pleno do seu modo de habitar o mundo. Demiurgo irónico e sedutor no seu universo ficcional, criou esta fábula deliciosa que nos faz acompanhar a vivência diária de um «eu» que vai anotando num pequeno caderno as suas observações e os seus diálogos interiores, assim como o puro pormenor anedótico. Este romance de despedida foi na sua totalidade revisto pelo autor, e os pormenores da sua edição rigorosamente tratados de acordo com as suas indicações."(in FNAC)



Augusto Abelaira, Outrora Agora, Lisboa, Editorial Presença, 1996.


"Um homem e três mulheres. O masculino pulverizado nos seus avatares femininos, espelhado em três dimensões temporais que se entrecruzam e se sobrepõem, explorando intensamente as possibilidades da linguagem, da ficção, dessa outra ficção que é a vida. Um círculo que se fecha em torno de um homem que puxou talvez depressa demais o fio do destino. Será afinal esse cerco de seduções, a implacável dança das Parcas? Mas porque detrás deste fascinante microcosmo de palavras - com a sua perturbadora carga de realidade - se encontra um arquitecto jocoso, este tembém um romance em que os grandes temas, as grandes interrogações, mas sem as grandes palavras(...) se deduzem de conversas banais. Um romance admirável." (in www.bertrand.pt)      



Augusto Abelaira, O Único Animal Que?, 2ªed., Lisboa, O Jornal, 1986.





"O homem é o único animal que sabe distinguir a água benta da água vulgar."
T.A. White










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