segunda-feira, 16 de maio de 2016

Shakespeare 400 anos


23 abr. - 28 maio '16 | Sala de Referência | Entrada livre

Quem não conhece a expressão: ser, ou não ser, eis a questão... (1)Pode-se afirmar, sem qualquer dúvida, que quase todos sabem que foi escrita por Shakespeare e que constitui o começo do primeiro verso daquilo que poderíamos classificar como um poema monológico integrado no poema dramático Hamlet. Felizes são «aqueles que por obras valerosas se vão da morte libertando», como Camões lembrou. É que se, por um lado, estamos a evocar a passagem de 400 anos sobre a data da morte do seu autor, por outro lado, estamos a dizer que ele continua vivo, dado que todos os dias alguém, no mundo, lembra e pronuncia uma frase por si escrita ou assiste a uma representação (quer em teatro, quer em cinema) de uma das muitas obras que nos deixou. 

William Shakespeare foi um autor (poeta e dramaturgo) e ator inglês que nasceu em 1564 e morreu em 1616 (ambos os momentos a 23 de abril(2). A sua obra é vasta. Aceita-se, comummente, que compôs 38 peças de teatro (tragédias e comédias baseadas em factos e personagens históricas), 154 sonetos, 2 longos poemas narrativos e diversos pequenos poemas. Em todos os seus escritos perpassa o tratamento do homem como escravo das suas paixões, nos diversos contextos políticos e culturais, transformando-se, contudo, ao mesmo tempo, em poeta do amor.

Foi o romantismo que o redescobriu, sobretudo o alemão. Em Portugal começou a ser apreciado em italiano através das representações das óperas de Bellini - [I Capuleti e i Montecchi = Os Capuletos e os Montequios = Romeu e Julieta], levada a cena em 1835, em Lisboa e no Porto, - e de Verdi - Macbeth, representada no S. Carlos, em 1849 -, em cujos programas se publicava o texto em italiano e em português (3)

O rei português, D. Luís, em 1877, começou a publicar uma série de traduções (4) das obras de W. Shakespeare, tornando-o acessível a quem não dominava o inglês ou o francês – língua em que foi abundantemente lido em Portugal, durante o século XIX. Essas traduções foram importantes para a difusão da sua obra, tanto em Portugal como no Brasil.

Revisitemos, na tradução do rei D. Luís, uma adaptação em prosa do poema declamado por Hamlet: «Ser ou não ser, eis o problema. Uma alma valorosa, deve ela suportar os golpes pungentes da fortuna adversa, ou armar-se contra um dilúvio de dores, ou pôr-lhes fim combatendo-as? Morrer, dormir, mais nada, e dizer que por esse sonho pomos termo aos sofrimentos do coração e às mil dores legadas pela natureza à nossa carne mortal; e será esse o resultado que mais devamos ambicionar? Morrer, dormir, dormir, sonhar talvez; terrível perplexidade.»

João José Alves Dias
CEH; CHAM/UNL

(1) No original «To be, or not to be, that is the question...» (III Ato, 1.ª Cena).
(2) Na verdade os 400 anos da morte de Shakespeare só ocorrem a 3 de maio porque a Inglaterra só adotou a reforma do Calendário, proposta pelo Papa Gregoriano, em 1752.
(3) A ópera representada em Lisboa, no Teatro S. Carlos, em 1798, Giulietta e Romeo, do compositor Nicola Antonio Zingarelli, sobre libreto de Giuseppe Maria Foppa (estreada em Milão, em 1796), tem por base a novela quinhentista de Luigi da Porto, fonte comum de inspiração do tema também a W. Shakespeare.
(4)  Com a colaboração do Conselheiro António José Viale, professor dele e dos filhos (D. Carlos e D. Afonso) escolhido por D. Fernando.

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