quarta-feira, 3 de julho de 2013

FRANZ KAFKA

SE NÃO LEU, DEVIA LER…

A Metamorfose de Franz Kafka!
Franz Kafka - A história do homem que acordou insecto
Por Teresa Firmino (Público)

A condição humana oprimida e alienada pela sociedade moderna é o tema central de A Metamorfose, escrito em 1912. Franz Kafka tinha 29 anos e não gostou do resultado. Porém, 90 anos depois de ter sido escrito — e publicada pela primeira vez em 1915 — é uma das mais conhecidas do escritor checo.
O livro A Metamorfose não podia começar de maneira mais crua e estranha: “Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietos, Gregor Samsa viu-se transformado num gigantesco insecto.” Franz Kafka introduz assim a história de Gregor Samsa, um incansável caixeiro-viajante que sustenta os pais e a irmã, que se entregam descaradamente à ociosidade.
Parasitado pela família até àquela manhã em que ao acordar, já atrasado para o trabalho, viu uma carapaça dura, uma barriga castanha abaulada e muitas pernas magrinhas, Gregor Samsa é quem parasitará a família a partir daí. Mas esta obra conta mais do que a história de um homem que acordou insecto: fala de como o ser humano pode viver alienado pelo trabalho, o dever familiar ou pela autoridade do pai e alerta para os comportamentos humanos. Ao mesmo tempo, reflecte alguns aspectos da vida do autor. […]
Kafka nasceu a 3 de Julho de 1883 em Praga, então pertencente ao império austrohúngaro, e morreu, de tuberculose, a 3 de Junho de 1924, a um mês de fazer 41 anos, perto de Viena. Completou o curso de Direito em 1906, na Universidade de Praga, e empregou-se numa companhia estatal de seguros como inspector de acidentes de trabalho, onde se manteve até 1922, quando a tuberculose, doença terrível na época, o forçou a reformar-se. Apesar de lhe permitir uma fonte de rendimento estável, sempre se sentiu insatisfeito no emprego, porque o impedia de se dedicar totalmente à escrita. Como era frequente escrever até de madrugada, ia muitas vezes trabalhar exausto.
       Sempre foi muito marcado figura dominadora do pai, um próspero comerciante judeu a quem só interessava o sucesso material e a ascensão social, não vendo com bons olhos a actividade literária do filho. Por isso, nas obras de Kafka, que não conseguia impor-se à autoridade paterna e permaneceu dependente do meio familiar, a figura do pai aparece muitas vezes associada à opressão, como aliás transparece em A Metamorfose.
Um acontecimento tão insólito como seja a transformação de um homem em insecto é relatado de forma tão realista, apesar de impossível, que o leitor aceita-o como factual e é forçado a procurar sentidos mais profundos. O que causou então a metamorfose do caixeiro- viajante, que o levou a perder a figura humana e a ficar com a voz roufenha de animal, a gostar de comida apodrecida, a rastejar pelas paredes e pelo tecto e a ver cada vez menos? Desengane-se o leitor se está à espera de encontrar uma resposta explícita, o que está lá é uma metáfora de muitas coisas.
Kafka não gostava nada de leituras biográficas de A Metamorfose. Mas a relação conflituosa com o pai acaba por transparecer neste conto, em particular na passagem em que o senhor Samsa bombardeia Gregor com maças, até uma se lhe cravar em cheio no dorso. Feriu-o gravemente, e ficou lá a apodrecer e a infetá-lo. escreveu.[…] Na altura em que escreveu “A Metamorfose”, nem a mãe nem a irmã preferida de Kafka contrabalançavam a intolerância e ira paternas. A família insistia para que passasse mais tempo no emprego; Ottla não o apoiou nessa disputa. Sentindo-se traído por ela, pouco tempo depois desse episódio, Kafka estava a escrever a traição da irmã de Gregor.
A metamorfose em insecto foi uma forma de libertação do trabalho, mas Gregor Samsa não consegue ser livre ou fazer o tal grande corte: a família manteve-o aferrolhado no quarto, isolado do mundo. Porém, permaneceu humano até quase à morte, que foi a única forma de libertação: nesse limiar entre o humano e o insecto, permaneceu lúcido e até apreciava música, patente quando a irmã tocou violino para uns hóspedes. “Seria ele um animal, se a música o prendia assim tanto?”, questionou- se.
(fonte: www.público.pt)

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